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Para o analista de mercado da Central de Abastecimento do Ceará, Odálio Girão, a falta de qualificação dos envolvidos na rotina da distribuição interfere na durabilidade da fruta, “o trabalhador ainda precisa de mais treinamento, mais qualificação, cai uma fruta, ele está nem aí, já vai para o ralo, então o desperdício acontece muito. Esse manuseio desde o produtor, mercado, prateleiras do supermercado e também mercadinho, começa a montar o desperdício”, explica.

 

Além da capacitação dos agentes envolvidos, como carregadores, funcionários e gerentes das empresas, o PNA destaca outras medidas que devem ser tomadas: melhoria de infraestrutura de transporte, recebimento, armazenamento e exposição. Nos supermercados, por exemplo, as perdas da produção são recorrentes muitas vezes por ações anteriores ao varejo, onde há falta cadeia de frios estruturada e embalagens apropriadas, é o que fala o especialista em desperdício de alimentos pela Embrapa, Gustavo Porpino. “Ninguém gosta de desperdiçar alimento, muito menos o supermercado, quando ocorrem perdas de alimentos, isso já é um prejuízo grande para o varejista e ele não tem a intenção de ter perdas”, ressalta.

O desperdício de alimento também se situa na etapa da distribuição. Para Raúl Osvaldo Benítez, representante regional da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO) para a América Latina e o Caribe, estima-se que nesses territórios, 17% das perdas e desperdícios ocorrem no mercado e na distribuição.

 

Quando se fala especificamente do caso brasileiro, 30% das perdas totais são verificadas nas Centrais de Abastecimento (Ceasas), segundo artigo Desperdício de Alimentos no Brasil – um desafio político e social a ser vencido, divulgado pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa). 

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De acordo com a Associação Brasileira das Centrais de Abastecimento (Abracem), o percentual de perdas por ano das Ceasas, ainda na fase da comercialização, equivale aproximadamente a 360 mil toneladas, tendo como base o total de cerca de 18 milhões de toneladas de alimentos comercializados. Nas centrais existem dois tipos de perdas; uma delas é no valor do produto, ocasionada por batidas e ferimentos nas frutas durante o seu trajeto; a outra é quando há danos mais sérios, que inviabilizam a compra, e este produto deve ser destinado ao lixo; segundo o Plano Nacional de Abastecimento (PNA). 

No Ceará, a central de abastecimento passa por mudanças. “O mercado exige e o consumidor está cada vez mais exigente”, afirma Odálio. Exigências essas que Ronaldo Fontenele, proprietário do boxe Clorofila, situado no Mercado São Sebastião, em Fortaleza, percebeu, depois de muitas perdas nos seus produtos. Ronaldo conta que passou por um treinamento no Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (SEBRAE), tanto de gestão quanto de boas práticas de manipulação dos alimentos. Ele estima que antes de fazer o curso suas perdas eram de cerca de 70%, enquanto hoje estão em torno de 10%.

 

“As pessoas compram com os olhos, então com a aparência, nossa resposta em termos de venda foi muito positiva. Porque a pessoa vê uma cestinha, já não vê uma caixa suja, algo mais arrumadinho, isso atrai o cliente”, afirma Ronaldo. No entanto, essa realidade não está presente em todo o mercado.

 

Para Firmo Bezerra, administrador do Mercado São Sebastião, falta uma maior preparação aos permissionários. “Esse é um desafio histórico do Mercado São Sebastião porque as pessoas que aqui trabalham não são comerciantes e profissionais, acabam sendo comerciantes de ocasião. Ou herda do pai ou de alguém da família e ele certamente não tem curso de formação, que seria interessante”, constata.

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