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PRODUÇÃO

Na América Latina, 28% dos alimentos cultivados são perdidos nas etapas de produção e pós-colheita. Segundo a Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura, a FAO, a porcentagem é a mesma para o desperdício no consumo. Ou seja, as perdas que acontecem no campo correspondem à mesma quantidade do que é desperdiçado no final da cadeia.

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Estes números são apenas estimativas já que é quase impossível fazer esses cálculos em uma escala global. Gustavo Porpino é especialista em desperdício de alimentos pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária, Embrapa, e para ele “o IBGE e parceiros poderiam fazer uma ampla pesquisa para termos mais ideia de quanto é desperdiçado em cada etapa no Brasil mas os custos são altos e por enquanto temos que nos contentar com pesquisas menos amplas mas que também geram subsídios importantes para a tomada de ações necessárias”.


Para começar, é interessante diferenciarmos perda de desperdício que, apesar de semelhantes, se manifestam de formas diferentes. Perda é aquilo que ocorre devido a falta de tecnologias, devido ao processamento pós colheita inadequado, falta de infraestrutura de armazenamento e de distribuição. Já o desperdício é quando você adquire no mercado mais do que aquilo que você tem capacidade de consumir e parte de alimento é descartado devido ao excesso.

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Além da falta de estrutura no campo, às vezes um produto, mesmo que em ótimo estado, acaba nem saindo de lá devido a sua aparência. É a chamada perda cosmética. Para o produtor, não compensa gastar com transporte, armazenamento e correr o risco de não lucrar com o produto quando ele chegar em um ponto de distribuição.

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E quando isso acontece, todo o esforço do produtor e os recursos naturais são prejudicados. Existem muitos gastos na produção. Então tudo o que se perde também foi pago. Há várias formas de pagamento, um deles é o dinheiro para comprar sementes, mão de obra, sistema de colheita. Mas existem outros gastos que são ainda maiores e difíceis de computar.   

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Segundo a Agência Nacional das Águas, ANA, quase 70% da água consumida no Brasil vai para a irrigação. A retirada total dessa água, é de 969 mil litros por segundo, o que equivale a quase 194 caixas d’água de 5 mil litros por segundo, e desse total, cerca de 45 caixas d’água são perdidas no processo.

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O solo também é um dos recursos que mais sofrem com as perdas. Os agrotóxicos, por exemplo, podem até ajudar a combater os insetos que destroem as plantações, mas são substâncias que causam danos irreversíveis ao solo.

Segundo o governo, a agricultura familiar é responsável por 70% dos alimentos consumidos pelos brasileiros. Para o professor e pesquisador Rodolfo Hoffmann, a afirmativa é falsa e não faz qualquer sentido. Os investimentos em políticas públicas ou sistemas cooperativos que possam criar estruturas de armazenamento pós colheita são poucos.

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“Se eu disser para você o quanto eu já perdi esse ano ninguém vai acreditar”. É assim que o Evandro Soares, produtor da serra de Ibiapaba, que vive da agricultura familiar desde os 17 anos, responde quando perguntado sobre os prejuízos que tem em sua plantação.

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Já no Tabuleiro de Russas, apesar de

ser uma área de perímetro irrigado, a

falta d’água fez o Maciano Bezerra,

produtor da região, se reinventar. Há

nove anos ele saiu de Iguatu para ir

morar próximo ao perímetro irrigado e

iniciar seu próprio negócio. Em uma área

de 16 hectares ele divide o espaço para

seu vinhedo e suas palmas, mas nem

sempre foi assim. Antes, além das uvas,

eles cultivava goiabas. Como estas

precisam de muita água e o recurso é

escasso, o plantio precisou ser suspenso

e toda a plantação morreu.

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Já o vinhedo é uma plantação que não pode receber muita água e a palma forrageira, além de não precisar de grande quantidade de água, cresce muito rápido, assim como sua procura no mercado. A cactácea é muito utilizada como alimento para o gado e é típica do Nordeste brasileiro. O Maciano uniu o útil ao necessário e hoje vende sua palma forrageira até para outros estados.

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Vizinho ao Maciano mora a família Alves. Eles chegaram há seis anos no local e iniciaram o plantio de acerola orgânica. Hoje, além da acerola, eles produzem cheiro verde,  abóbora, feijão além de muitas frutas. A dona Ocineide e seu Luis são os responsáveis pelo espaço e ela fala que o seu quintal é o seu grande mercado: “tudo o que a gente planta aqui é pra gente comer, porque a gente não quer comer com veneno”.

Para diminuir as perdas durante a produção na agricultura familiar é necessário o auxílio de tecnologias que sejam adaptáveis aos diferentes empreendimentos rurais e aos sistemas de distribuição. Mas, já que nem todos têm acesso a essas tecnologias, o estímulo a feiras locais e à comercialização podem ajudar os produtores. Uma das iniciativas públicas para ajudar os pequenos produtores rurais é o Agroamigo, um Programa de Microfinança Rural do Banco do Nordeste.

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Se reduzidas as perdas, haverá um ganho não só financeiro, mas também ambiental. Economizando os recursos naturais, os impactos nas mudanças climáticas diminuem, então há todo um ganho que talvez seja até superior ao ganho econômico.

Palma Forrageira. Cactácea de origem mexicana. É rica em água e muito comum no semiárido.

Fonte: Agência Nacional de Águas - Conjuntura dos Recursos Hídricos no Brasil 2017

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