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No Brasil, a maior parte da carga transportada é realizada por rodovias. O problema é que aproximadamente 62% das rodovias do país, segundo pesquisa realizada pela Confederação Nacional do Transporte (CNT), são consideradas regular, ruim ou péssima, o que acarreta muitos acidentes, nos quais estão envolvidos caminhões que transportam alimentos, e estes acabam sendo perdidos durante o percurso ou têm sua chegada ao destino final atrasada. Esses atrasos impactam diretamente na qualidade dos produtos, visto que eles possuem uma baixa durabilidade.

A questão da perecibilidade dos alimentos e a necessidade de manter suas características é que torna a logística de transportar alimentos tão importante. “A engenharia de alimentos vem com artifícios, tecnologias e processos para diminuir perdas, agregar valor para que pessoas de todo lugar tenham acesso a produtos que são produzidos, talvez em só uma parte do mundo.”, é o que destaca a professora Kaliana Sitonio.

Para a correta realização do transporte de alimentos perecíveis é necessário que os veículos sejam adaptados seguindo as normas da Vigilância Sanitária, que estabelecem condições ideais de temperatura para cada produto. Segundo o Manual de Boas Práticas de Manipulação de Alimentos da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), os veículos que transportam alimentos devem estar limpos, fechados e em bom estado de conservação, as temperaturas devem ser adequadas, os alimentos perecíveis devem sempre ser mantidos em caixas térmicas e nunca devem ir no mesmo local que pessoas, animais ou produtos tóxicos. Odálio Girão destaca que lidar com os alimentos “requer um cuidado muito especial por parte do produtor, do comprador de mercado e do consumidor”.

Apesar de toda essa discussão sobre os cuidados e os problemas no transporte de alimentos, o agrônomo Daniel Lima, do Centro de Estudos do Trabalho e Assessoria ao Trabalhador (Cetra), enfatiza que o problema está para além dessas dificuldades enfrentadas e que o desperdício de alimentos é reflexo do agronegócio, que coloca o alimento na lógica do capital, o descartando quando este não obtém o preço almejado. “parte da minha vida morei no estado de Santa Catarina e lá teve uma época de uma safra muito grande de tomate e de batata, onde foram jogados fora 4 toneladas de tomate porque no mercado tava com preço bem baixo e o tomate daquele preço não pagaria todos os custos e gastos que eles iam ter pra entregar.”

Custos no transporte, veículos inadequados, falta de infraestrutura, excesso de produção e manuseio incorreto, tudo isso contribui para que haja o desperdício de alimentos. Dentre as soluções apontadas no relatório da ONU, estão: investimento público em infraestrutura; melhoria da logística de transporte e dos veículos; capacitação de trabalhadores; investimento em serviços de educação; treinamento para agricultores e para todos os atores da cadeia alimentar.

Fonte: Confederação Nacional do Transporte - Atlas do Transporte 

Nos países em desenvolvimento as perdas pós-colheita variam de 35 a 50% por ano devido à falta de infraestrutura nas estradas, veículos de transporte inadequados (abertos ou sem refrigeração), mal armazenamento e manuseio incorreto feito por trabalhadores sem qualificação. As informações são do relatório “Desperdício e perda de alimentos no contexto de sistemas alimentares sustentáveis” divulgado pela Organização das Nações Unidas (ONU).

Segundo Odálio Girão, analista de mercado da Central de Abastecimento do Ceará (CEASA), existe muita rotatividade entre os trabalhadores do transporte de alimentos. O que dificulta a qualificação desses profissionais. Além disso, muitos produtores preferem transportar seus alimentos pelo menor custo e isso muitas vezes não significa qualidade no transporte de alimentos.

Para Kaliana Sitonio, professora do departamento de engenharia de alimentos da Universidade Federal do Ceará (UFC), os transportadores precisam ficar atentos à umidade, à luz e à temperatura que cada produto necessita. “O que difere o alimento de outras matérias-primas é que estamos falando de organismos vivos e que tem um metabolismo”.

Pesquisa realizada pela CNT apontou que apenas 3,8% das rodovias do Ceará são consideradas ótimas 

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